quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Amizade


Um dia a maioria de nós irá separar-se. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertasque fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentosque partilhamos.Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia,das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano,enfim… do companheirismo vivido.Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algumdesentendimento, segue a sua vida.Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe…nas cartas que trocaremos. Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices…Aí, os dias vão passar, meses…anos… até este contacto se tornar cada vez mais raro. Vamo-nos perder no tempo…. Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão:- “Quem são aquelas pessoas?”Diremos…que eram nossos amigos e…… isso vai doer tanto! “Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!” A saudade vai apertar bem dentro do peito.Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente……Quando o nosso grupo estiver incompleto…reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo. E, entre lágrima abraçar-nos-emos. Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante.Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado. E perder-nos-emos no tempo…..Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades…. Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todosos meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!”


Fernando Pessoa

1 comentário:

  1. Amigo

    1.
    Amigo, toma para ti o que quiseres,
    passeia o teu olhar pelos meus recantos,
    e se assim o desejas, dou-te a alma inteira,
    com suas brancas avenidas e canções.

    2.
    Amigo - faz com que na tarde se desvaneça
    este inútil e velho desejo de vencer.

    Bebe do meu cântaro se tens sede.

    Amigo - faz com que na tarde se desvaneça
    este desejo de que todas as roseiras
    me pertençam.

    Amigo,
    se tens fome come do meu pão.

    3.
    Tudo, amigo, o fiz para ti. Tudo isto
    que sem olhares verás na minha casa vazia:
    tudo isto que sobe pelo muros direitos
    - como o meu coração - sempre buscando altura.

    Sorris-te - amigo. Que importa! Ninguém sabe
    entregar nas mãos o que se esconde dentro,
    mas eu dou-te a alma, ânfora de suaves néctares,
    e toda eu ta dou... Menos aquela lembrança...

    ... Que na minha herdade vazia aquele amor perdido
    é uma rosa branca que se abre em silêncio...

    Pablo Neruda, in "Crepusculário"

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