A vida é feita dos pedacinhos que deixamos e levamos aos outros. Em todos os meus internamentos, fiz amigas. A S., uma mulher serena de 39 anos que quer muito ser mãe e os miomas que tinha não deixavam. A O., uma mulher divertida de 55 anos que lhe havia sido diagnosticado cancro do endométrio. Quando teve alta eu tinha acabado de chegar da operação e, ainda meio atordoada, senti as suas festinhas na cara a despedir-se. Arrumou-me a mesinha de cabeceira deixando só o meu terço em cima. A A., uma mulher doce de 52 anos que tirou um nódulo na mama e amava a sua neta, exibindo com orgulho as fotografias que possuía. A E., uma mulher inteligente de 65 anos que havia perdido tudo nos incêndios de Castanheira de Pêra e tinha sofrido uma histerectomia. A G., uma mulher culta de 72 anos que devido à idade tirou o útero e me deixou um livro como prenda "E se eu fosse Deus". Curioso... :) No meio do caos, do medo e da incerteza, é isto que mais importa.
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